Qual é o significado da vida? Isso era tudo – uma questão simples; uma questão que tendia a nos envolver mais com o passar dos anos. A grande revelação nunca chegara. A grande revelação talvez nunca chegasse. Em vez disso, havia pequenos milagres cotidianos, iluminações, fósforos inesperadamente riscados na escuridão.
O novo é realmente algo incrível. Novo para mim, quero dizer. Descobri, da melhor forma possível, os prazeres de flutuar entre os pensamento e devaneios, entender as angústia e anseios dos personagens. De montar a personalidade dessas pessoas que nos são apresentadas de vários pontos de vista. Sim, porque esse livro não conta uma história de maneira convencional. Não estou falando de uma simples não linearidade. Uma situação simples e banal, pode se arrastar por várias e várias páginas, através dos pensamentos de todos envolvidos. Como se pudéssemos não apenas sondar os pensamentos, mas sentir as emoções e medos. Os sentimentos mais íntimos de cada um. Sentimentos que muitas vezes são conflitantes.
O livro é dividido em três partes. A primeira – A Janela – nos apresenta a família Ramsay e amigos, que estão em sua casa de veraneio, na ilha de Skye, na Escócia. Da janela, é possível ver ao longe O Farol. A Sra Ramsay está tricotando meias para o filho do faroleiro. O filho James pergunta se irão ao Farol, e ela responde que sim. Mas seu marido alerta da possibilidade de não irem devido a mudança no tempo. A simples troca te palavras em uma sala, é o suficiente para desencadear uma série de pensamentos conflitantes em todos ali.
Na segunda parte – O Tempo Passa – voltamos à casa muitos anos depois. Todos sofreram várias perdas em meio a guerra, a passagem de tempo é sentida principalmente através da descrição da casa: as portas e janelas deterioradas, a areia que tomou conta, ninhos de pássaros, os cristais.
Por fim, na terceira parte – O Farol – os preparativos para de fato ir ao farol e encerrar esse ciclo interrompido de forma tão drástica e cruel. Chegar ao farol pare um alívio, uma libertação.
Mas ele continuou olhando por cima dos ombros enquanto Mildred o levava, e ela tinha certeza de que ele estava pensando: não iremos ao Farol amanhã; e ela pensou: ele se lembrará disso por toda a vida.


Ao flutuar entre a consciência dessas pessoas, conseguimos moldar o caráter delas através de diferentes perspectivas. Esse é um dos grandes baratos do livro. É impossível julgar qualquer um ali pela primeira impressão que temos. Eu, por exemplo, odiei o Sr Ramsay no primeiro momento, e ele se tornou um dos personagens mais interessantes.
Ler Ao Farol foi como desacelerar. Estou sempre reclamando que minha mente não para. Sempre pensando no trabalho, nos compromissos e coisas do dia a dia. Pegar esse livro antes de dormir, um copo d’água com gelo, virou, por uns dias, minha terapia. Era como usar a penseira de Dumbledore e esvaziar a mente por um breve momento. Quase dava pra ouvir o barulho das ondas ecoando entre os inúmeros monólogos interiores desse livro. A beleza e suavidade da escrita, desfaçam a complexidade das palavras. No começo foi um desafio, mas a barreira do “novo”, não demora a cair, e dali pra frente é só gozo.
Eu estou totalmente rendido ao deleite de ler Virginia Woolf. Confesso que adiei até demais, e não me informei por qual obra dela começar, mas se tem algo melhor dela que Ao Farol, eu já anseio por me debruçar sob essa complexa teia que é tecida entre suas excepcionais personagens e a escrita cheia de técnica e poesia.
Livro: Ao Farol
Autora: Virginia Woolf
Ano: 1927