Obs.: A tradução do livro manteve os termos originais, hoje considerados pejorativos, para se referir a pessoas com deficiência mental.
O livro narra, na forma de relatórios e lembranças, a história de Charlie, um adulto de 32 anos com retardo mental que é selecionado para um experimento que promete torna-lo inteligente. O mesmo experimento já tinha sido feito com ratos em laboratório, e, dentre eles, Algernon foi o que alcançou maiores níveis de inteligência. Ele começa a enxergar em Algernon, um par. A evolução de Charlie segue, dentro das possibilidades, a mesma evolução de Algernon.
Ele começa a ter acesso á lembranças que sua mente limitada não permitia. Se sente sozinho, passa a enxergar que as pessoas que considerava amigas, na verdade zombavam dele e eram cruéis. O livro é bem pesado, nessa parte. Principalmente nas lembranças de pessoas mais próximas. Charlie queria ser mais inteligente para ter mais amigos e não se sentir sozinho. Não é bem isso que acontece… “Estava tudo bem enquanto eles pudessem rir de mim e parecer inteligentes à minha custa, mas agora eles se sentiam inferiores ao imbecil”. Charlie se torna arrogante a ponto de questionar os próprios cientistas que trabalham no projeto. Fica claro que sua evolução intelectual não caminha lado a lado com a dinâmica do convívio social. Até mesmo na tentativa de experimentar o amor que sente por sua professora. Ele começa a se referir ao Charlie do passado, como uma segunda personalidade. Como se duas pessoas diferentes habitassem o mesmo corpo.
Você vê um Charlie menos preocupado com princípios religiosos no auge do seu conhecimento, e se apegando a crenças e ensinamentos cristãos a medida que ele entra, assim como Algernon, em remissão. O final, embora esperado, é de cortar o coração. A vida é um ciclo e nem com todo conhecimento adquirido, Charlie foi capaz de escapar. Esse livro mexeu profundamente comigo, e eu gostaria de reler em breve. Sinto que ainda tem muitas camadas que eu não alcancei nessa primeira leitura, e essa sensação é suficiente para já colocá-lo num lugar especial em minha estante.

Livro: Flores para Algernon
Autor: Daniel Keyes
Ano: 1959