Ensinava-lhe que era uma pena a falta de leitura não se converter numa doença, algo com um mal que pusesse os preguiçosos a morrer.
Como esse é o primeiro post por aqui, já que os outros são só réplicas de alguns dos posts do nosso instagram, vou aproveitar para mudar um pouco o formato. Sempre que achar necessário, vou começar com uma pequena sinopse do livro, sem spoilers (vou tentar), para contextualizar. Coisa que não podemos fazer por lá, devido o limite de caracteres.
Em um pequeno de vilarejo de pescadores, vive Crisóstomo. Se aproximando dos quarenta, ele sente que precisa ter um filho para se sentir completo – segure essa informação porque ela vai ser importante mais na frente. Encontra na figura de Camilo, um órfão, essa outra metade. E na busca por um amor, a parte que lhe falta é encontrada em Isaura, moça jovem enjeitada por não ser mais virgem. Esse é o ponto de partida para uma história muito bonita, mas também muito triste.
Esse foi o meu primeiro livro de Valter Hugo Mãe, e senti certa dificuldade. No começo, achei que poderia ser um erro de tradução, mas logo percebi que a escrita poética de Mãe é propositalmente difícil, me remetendo à textos mais antigos. Me peguei marcando o livro em diversos pontos. Tanta coisa bonita que faltou marcadores.


O livro aborda assuntos delicados usando um linguajar muitas vezes chulo, de forma desconfortável e preconceituosa, para no fim quebrar os tabus e nos mostrar que o que importa é o sentimento, o sentir-se completo. Afinal, como falei antes, esses personagens por diversos motivos buscam preencher um vazio, como se depois de tudo que viveram, fossem apenas uma metade de um todo. As histórias soltas vão aos poucos se encaixando e formando essa família nada convencional. As circunstâncias que os aproximam são diferentes e peculiares. Mas a motivação é sempre a necessidade de preencher esses vazios. Os laços criados são de alguma forma para cada um, sua própria redenção.
Na busca por dar sentido ao caminho de cada um dos personagens, senti que o livro ficou arrastado por alguns capítulos. Mas a medida que as histórias iam se cruzando, eu pude me regozijar dos efeitos de uma boa e bem contada história. O livro tem seus momentos, e um deles certamente é o capítulo “a moeda pequena”, que me arrancou lágrimas de tão bonito e sensível.
Deu pra perceber que o livro fala em sua maior parte de solidão, e de como as pessoas procuram desesperadamente preencher suas metades. Mas termina de forma brilhante com um recado muito bonito. Desmontando o conceito de família tradicional.
Livro: O filho de mil homens
Autor: Valter Hugo Mãe
Ano: 2011